Porque as assim chamadas “divas do pop” fazem tanto sucesso com o público gay eu não sei exatamente. Acredito que isso seja tema para uma reflexão mais apurada, mas por enquanto arrisco minhas fichas no impacto que a imagem de uma mulher forte tem para um indivíduo que é reprimido por um ambiente machista.
É sabido que Britney, Christina, Beyoncé e muitas outras têm legiões de fãs gays que compram seus discos e lotam seus shows. E embora todas elas tenham a Madonna como referencial óbvio, poucas se posicionam com ênfase em relação a homossexuais como ela (durante o ano passado, por exemplo, a Material Girl fez protestos contra a Proposition 8 em vários de seus shows). Se alguns podem dizer que ativismo é desnecessário e que é implícito que cantoras pop tenham fãs gays, fica pelo menos a incômoda sensação de que ser público alvo não equivale a ser público querido.
Stefani Joanne Angelina Germanotta, também conhecida como Lady GaGa, a cantora que vem desde 2008 marcando presença em todas as charts e capas de revista, tem nadado contra a corrente do silêncio do pop em relação ao seu público gay. Na edição de agosto da revista Out ela declarou que tudo nela – ela própria, seu show, suas músicas – é gay, e que ela está orgulhosíssima de ter conquistado esse público específico; na recente edição do VMA, dedicou seu prêmio a todos os gays.
Até aí tudo bem, ficar só no oba-oba e na bajulação é fácil. Mas nesse último fim de semana, GaGa se posicionou definitivamente como ativista. No sábado, cantou no evento anual do Human Rights Campaign, o mesmo em que Obama discursou (o presidente até fez brincou: “é uma honra para mim abrir o show da Lady GaGa”), e no domingo, fez um discurso na National Equality March em Washington DC.
GaGa na National Equality March
Durante o discurso, a cantora fez menção a Judy Garland, Stonewall e Obama e disse que na luta por igualdade cada um tem que fazer sua parte, “no seu quintal”. Se comprometeu a, como artista, denunciar e protestar contra todas as ocorrências de homofobia no meio da música.
Em entrevista ao site Towerload durante a Marcha, GaGa diz que estava nervosíssima e que esse foi o momento mais importante de toda sua carreira. Mais à vontade que durante o discurso, conta que sua presença no evento tem muito mais a ver com a sua relação pessoal com homossexuais, tendo presenciado discriminação com seus amigos homos durante toda a vida, do que como artista que tem fãs gays.
Mas o que mais me chamou atenção foi um comentário que ela fez uma semana antes da marcha: “eu realmente acredito nessa causa, e como mulher da música pop, penso que esse fim de semana vai ser muito importante”.
A cultura pop se utiliza com muita frequência da cultura gay (vide os passos de Vogue, que Madonna resgatou de boates gays), e tem sim um forte compromisso com a comunidade LGBT, especialmente com os homens homossexuais. Ser uma cantora pop e silenciar em relação a isso tem um leve quê de hipocrisia, na minha opinião. Como artista do gênero, GaGa sabe muito bem o que faz e com quem está lidando. Ao tomar parte na luta LGBT, ganha a simpatia de ativistas e mais ainda dos fãs; atitude aparentemente simples, mas que demanda esforço (lembremos que a sociedade norte-americana tem fortes reservas em relação a homossexuais).
Trocadilhos à parte, Lady GaGa tem voz. E utiliza-a muito bem.
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